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A GRANDE QUESTÃO É: O MERCADO ESTÁ PREPARADO PRA TANTA TECNOLOGIA PARA DJS?

 

 

 

NAMM 2017 – É um dos eventos mais importantes do mundo para a indústria da música, realizado na Califórnia, USA e está sendo realizado neste momento. Já em abril haverá o Musikmesse, que é o mais importante evento dedicado à tecnologia musical realizado em Frankfurt, Alemanha. Com estes dois megaeventos e alguns outros de pequeno porte que estão crescendo (como o Pro- BPM, por exemplo), em todas estas feiras serão apresentados novos produtos em formato software e hardware para Djs profissionais e amadores. Todas estas novidades vão chegar com a promessa de um melhor desempenho e também novas funcionalidades criativas. Todo mundo vai querer conhecer todos os detalhes, seja para colocá-los em sua lista de desejos, caprichos e necessidades, ou simplesmente para criticá-los impiedosamente em fóruns e redes sociais como já acontece há bastante tempo.

 

 

AS MARCAS QUE JÁ NÃO EXISTEM OU QUE MUDARAM

Um dos primeiros sinais de que o mercado de produtos para DJs está altamente saturado tem sido precisamente o desaparecimento nos últimos anos de várias marcas icônicas e a transformação notável de outras: Vestax e Rodec disseram adeus definitivamente, a Ecler parece ter abandonado o mercado de produtos para DJs e a Rane foi absorvida por um grande grupo empresarial.

As razões são diversas. No caso da Vestax, ela não conseguiu se adaptar ao novo ritmo do mercado e às necessidades reais ou criadas artificialmente pelos DJs atuais. Já a Rodec tentou resistir à tentação de mover as suas fábricas para terras asiáticas, e isso para não arriscar perder nem um pingo de sua reputação como uma fabricante de produtos de alta qualidade, o que acabou sendo fatal para o seu equilíbrio financeiro, mostrando uma face pouco atualizada à frente do DJ Digital. A Rane também tentou manter bem perto todo o desenvolvimento de seus produtos, mantendo um perfil mais elitista, mas a sua incapacidade de lançar uma maior variedade de produtos, corrigir os erros de sistemas existentes ou desenvolver rapidamente novos drivers, fez com que o seu destino fosse ser absorvida por um grande grupo empresarial como o Inmusic, e assim permanecer temporariamente com poucas vendas. A Ecler parece que não foi capaz de se adaptar ao ritmo frenético de um mercado que exige novas variedades de produtos e atualmente optou por concentrar a sua linha de negócios em outro tipo de produto de som profissional para sobreviver.

É claro que uma das necessidades atuais dos fabricantes para sobreviver no mercado de hoje é a fabricação de mais baixo custo na Ásia (isso já acontece há bastante tempo em outros setores tecnológicos), para maximizar o lucro de cada venda. Outra questão relevante é a obrigação de se lançar no mercado uma grande quantidade de produtos a cada ano para estar em conformidade com o que os DJs querem em todos os momentos. Desenvolver rápido, barato e oferecer produtos variados são claramente algumas das regras atuais para se sobreviver no mercado.

CONTROLADORAS PARA DJs, UM MERCADO QUE ESTÁ GRADUALMENTE PARANDO.

Em 2007 a Vestax mostrou ao mundo com a VCI-100 o que poderia fazer um controlador MIDI para os DJs: desempenho com um layout intuitivo, funcional e com uma construção decente e funcional, gerando em um curto espaço de tempo um mercado específico para os DJs e todas as marcas entraram nessa onda.

 

O bom das controladoras e que elas são muito mais baratas do que um kit de Cdj ou um toca discos com mixer. Um kit de CDj 2000 Nexus com um mixer pro da Pioneer hoje no Brasil tem um valor de R$ 30.000 (ou seja, o valor de um carro). Uma controladora pro da mesma marca com praticamente as mesmas funcionalidades tem o valor de R$ 8000. Os fabricantes ganharam muito dinheiro com o mercado das controladoras pois elas proporcionaram praticamente todos a possiblidade de um equipamento para Dj profissional.

O mercado das controladoras para DJs praticamente atendem a todos os tipos de orçamentos e, como as vendas sempre foram altas, então automaticamente se criou um mercado de segunda mão, o que deu a oportunidade para muitos aspirantes a DJ de começarem com um produto bom e por um valor bem em conta. Muitos acabam vendendo para comprar outro produto de outro nível e alguns vendem porque desanimam mesmo. O que está claro é que muitos que desejam subir de nível de produto, na maioria das vezes pagam mais para um produto que se atualizou esteticamente, mas a funcionalidade é praticamente a mesma.

 

 

No mercado de controladoras “top” acontece outro tipo de situação: aqueles que já têm uma controladora pro não precisam comprar outra a cada um ano e meio ou dois anos, já que o ciclo de vida destes produtos é maior porque as atualizações e as mudanças não são tão significativas. Se eu tenho uma Pioneer DDJ SX porque preciso comprar uma DDJ SX2? É necessário? Normalmente os fabricantes nesta faixa estão comprometidos em alcançar um novo público, mas francamente é difícil, já que o perfil de DJ que gosta de tocar de um jeito tradicional são muitas vezes os mais relutantes em mudar para um controlador. Igualmente difícil é convencer os “novos DJs” de que devem começar a comprar algo entre 3000 e 4000 reais e muitos ficam assustados com o investimento, até porque, se não gostarem de tocar com esta controladora, o que vai acontecer é que este produto vai para o mercado de segunda mão e isso contribui negativamente, pois obstrui a saída de novo material.

Outra questão sobre as controladoras é que certas funções especificas só funcionam com determinados softwares, apresentam problemas com alguns comandos MIDI ou simplesmente algumas funções não são visualizadas corretamente no monitor porque elas têm uma configuração RGB diferente. Estas questões desanimam muito o comprador final. Imagine um Dj que fez a primeira experiência e cresceu com o Serato e de repente percebe que, para utilizar a nova controladora, ele precisará mudar a traktor ou Rekordbok e muitos não abrem mão.

 

Se os fabricantes se dedicassem a não dar às suas controladoras ciclos de vida curtos e investissem mais tempo lançando produtos com novidades realmente revolucionárias e que poderiam ser utilizadas em qualquer software, então o mercado poderia ser revitalizado. Como exemplo, uma das principais demandas dos DJs são os produtos “dois em um” que servem tanto como controladoras ligadas a um laptop e também que têm a possibilidade de reproduzir arquivos digitais em pen drive ou cd, mas apenas dois produtos estão disponíveis no mercado com esta característica: o XDJ R1 e o XDJ RX da Pioneer.

 

SOFTWARE: PODER SEM CONTROLE

As controladoras não são nada sem o software, mas já faz tempo que o software segue caminhos complexos e isso deixa muitos DJs desconfiados. O Traktor parece se concentrar em fornecer recursos que permitem aos DJS realizarem remixes com a sua nova proposta Stem e Remix Deck com um sequenciador de passos; Serato DJ também parece ter tomado um caminho semelhante, expandindo seu sample e oferecendo a função Flip para criar pequenos remixes e o rekordbox parece ter emprestado ideias de ambos os programas que oferecem um sampler com um sequenciador muito básico. Mas nenhum desses desenvolvimentos parece ter um impacto profundo e criativo entre os usuários, tampouco servem para impulsionar as vendas de hardware.

Também a venda por módulos de alguns destes programas não foi muito bem aceita pelos consumidores. Comprar um programa e depois ter que pagar mais por cada vez que for preciso instalar alguma melhoria ou ferramenta criativa está deixando os DJs descontentes.

Já muitos usuários, por sua vez, procuram soluções para trabalhar de uma forma clássica e priorizam a estabilidade e a compatibilidade com todos os tipos de controladoras e interfaces de áudio, que seja eficaz na gestão da música e que, para ser executada de uma forma normal, não precise de um laptop de 6000 reais… Talvez se os DJs aprendessem realmente a utilizar uma controladora e tirassem partido primeiro de suas funções básicas, poderiam então dedicar tempo para aprenderem a ser mais criativos, ou seja, teriam que se preocupar mais com a música e não tanto com os equipamentos.

 

A GAMA PROFISSIONAL: NÃO HÁ RAZÕES PARA SER ATUALIZADA

Os produtos top de linha para DJs é o segmento que sofre a maior estagnação. Os preços elevados dos mixers e dos CDJs faz com que os profissionais tenham que esperar mais tempo para se atualizarem e assim eles preferem levar os seus equipamentos para uma revisão técnica mais frequentemente para ampliar a vida útil do equipamento. Se somarmos o período em que está ocorrendo o trabalho do DJ, então definitivamente o investimento de equipamentos mais atualizados torna-se secundário; você pode continuar fazendo exatamente o mesmo trabalho com o equipamento que você já tem.

No ano passado eu fui a uma boate muito conhecida por todos e neste local a renovação de seus equipamentos era de segunda mão. E isso foi perfeitamente analisado e revisado, e, obviamente, nenhum cliente estava ciente do fato de a equipe ser relativamente nova, uma vez que eles dançaram e consumiram bebidas da mesma forma como sempre fazem.

A tudo isto deve ser mencionada a questão de algumas marcas que fazem um “corre-corre” para o lançamento do seu produto mais novo, mas que na maioria dos casos não é compatível no momento do lançamento com muitos sistemas.

Se você olhar o que está acontecendo com os toca-discos para DJs, nos encontramos em outra situação paradoxal: todos os fabricantes lançam os mesmo toca-discos, mudando apenas as caixas e as cores. Nenhum fabricante está contribuindo com nada de novo no campo dos toca-discos além do esforço da maioria dos fabricantes que tenta se assemelhar ao clássico Technics. Talvez a única fabricante que se destaca é a Reloop, que integrou no seu novo toca-discos um MIDI controler. Paradoxalmente, o mercado de segunda mão dos tocas- discos originais Technics anda mais vivo do que nunca, muitas vezes as sugestão dos fóruns na rede não é o de comprar um tocadisco novo, mas sim revisar o que você já tem. Mais uma vez o mercado de segunda mão se torna um concorrente direto dos produtos novos.

 

ENTÃO, O QUE NOS ESPERA?

Sinceramente eu não acredito que neste ano sejam lançados equipamentos com novidades revolucionárias. Espero estar errado. Tomara que seja lançado um equipamento tão cheio de novidades e ferramentas criativas para que as pessoas fiquem com a “boca aberta” pela música e não pela vaidade do Dj. Acho que muitos Djs deveriam dar mais importância à música e ao resultado, aprimorar a técnica, estudar e analisar a música que tocam.

Além disso, o mercado de trabalho dos DJs esta agonizando, é profundamente lamentável que muitos que começaram com uma ilusão estão desanimados e os profissionais experientes que tem muitas horas de ritmo precisam de outra atividade para pagar as contas. Os beneficiários disto serão os novos aspirantes a DJs, que encontram um mercado cheio de sonhos desfeitos e a um bom preço para alimentar as suas fantasias tecnológicas.

 

fonte: widemuzik

 

 

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